Palavras do Mestre Hossam Ramzy (percussionista e compositor egípcio)
“dançar é como fazer a percussão, como tocar a flauta Nay, ou como tocar piano, ou tocar o Oud, Quanoon ou qualquer outro instrumento. O instrumento de quem dança é o corpo. A dançarina é um membro musical da Orquestra.
Em qualquer estilo e esfera musical, é sabido que o melhor tipo de músico é aquele que OUVE OS OUTROS MÚSICOS, enquanto toca sua parte, encaixando-se perfeitamente no que está sendo tocado. Ele toca alegremente a mesma música que os outros e acentua quando deve, cresce com eles, e pára quando eles param.
Como tocador de Tabla, quando faço a percussão de uma música eu presto muita atenção a todas as frases musicais que estão sendo tocadas. Como membro de um grupo, devo conhecer definitivamente que ritmo é aquele e devo saber quando o ritmo muda, diminui, acelera, pára, acentua ou se modifica de qualquer jeito. Eu devo ouvir cada músico que toca comigo e ter certeza que estou tocando de acordo com o que ele ou ela está tocando, seja um solo ou parte de uma orquestra. Quando a orquestra inteira está fazendo rodeios sobre uma parte específica, tenho que colaborar e crescer com eles, e expressar esta parte, porém quando a música é tocada por apenas um solista, eu tenho que tocar bem baixinho, apenas o suficiente para fazer o acompanhamento, mantendo a contagem da música e o ritmo definido; eu também posso gentilmente decorar os pequenos acentos que ele estiver fazendo aqui e ali apenas para manter a coisa toda em um nível estético e artístico, e manter a comunicação fluente entre nós dois. Esta mesma atitude aplica-se a todos os instrumentos que se apresentam na mesma parte da música. Ou a coisa toda descamba para uma bagunça sem precedentes.
Nos meus contactos com diversos grandes artistas do mundo que têm a dança como parte relevante de suas carreiras ou que estão relacionados à nossa amada dança, como a dançarina indiana de Kathak Nahid Siddiki do Paquistão ou a espanhola Maria Belén Fernandez de Madrid, TODAS elas me explicaram quanto tempo gastam aprendendo sobre ritmos, contagem, cantando os sons dos ritmos e aprendendo os significados dos movimentos do corpo e o que este movimento de cabeça significa, ou o que o olhar indica, ou o quanto elas amam isso tudo e como é significativo aos olhos de quem observa e como elas nunca poderiam pisar um palco sem estes conhecimentos, e se por milagre conseguissem, elas não seriam aceites pelo público, uma vez que este público sabe o que quer.
Porque algumas pessoas pensam que na dança egípcia e do Oriente Médio deveria ser diferente?
Sim, eu sei... Se você mostrar as pernas o suficiente, muita gente ficará interessada no oriente médio, mas AQUI eu falo sobre ARTE, CULTURA e ESTÉTICA.
Tenho visto diversas dançarinas se apresentarem com as mais inusitadas coreografias para a música e dizerem, e eu cito aqui “Esta coreografia foi especialmente desenhada para mim por "fulano de tal" (algum professor famoso}".
Sinto muito por isso do fundo de meu coração, porque quero que VOCÊ compreenda a dança e DANCE REALMENTE bem.
Então se você quer saber como fazer isso e como organizar sua dança de acordo com a música, é assim que se faz. Este é um presente gratuito, e espero que você faça bom uso dele.
Eis o que eu penso:
Se escolheu uma ou outra parte da música.
Agora tente descobrir algo mais sobre ela. O que ela está dizendo, musicalmente e liricamente se possível, e quais seriam os gestos adequados a esta composição... é uma música alegre? É uma música triste? Ou seria uma música brava? Uma música melancólica? Que tipo de música é esta, é clássica, é folclórica, é um Baladi, é um Baladi improvisado, é um Saidi, e isso só para mencionar o campo de músicas egípcias...
Então descubra que ritmo é aquele. Quantas barras de cada ritmo a música tem.
Abasteça-se com um vocabulário básico de movimentos que podem encaixar-se em cada um destes ritmos (dois ou três passos que possam ser encaixados em cada ritmo), e você deve fazer um óptimo trabalho. Uma de minhas dançarinas favoritas do Egipto é Fifi Abdo. Garanto-vos que ela faz apenas três ou quatro passos em todo seu repertório. Mas ela executa-os no lugar certo e no momento certo, com um adorável sorriso.”
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